quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Renovação no mercado de treinadores: sem paciência, sem resultados

Deivid, novo comandante do Cruzeiro
Comandante. Chefe. Professor. Você pode chamar de diversas formas aquele senhor que, por vezes, senta no banco de reserva ou, por outras vezes, vai até na beirada do campo gritar com seus jogadores. Ser treinador de futebol está longe de ser uma profissão fácil e talvez por isso vejamos quase sempre os mesmos nomes perambulando pelos clubes tantas vezes. Essa pouca renovação no mercado de técnicos está começando a mudar, felizmente, com aparições de nomes como o Roger Machado, do Grêmio, por exemplo, ou até mesmo o Deivid, ex-atacante e hoje treinador do Cruzeiro.

O futebol brasileiro tem como uma característica bastante evidente a pouca paciência e, desta forma, preza sempre pelo bom resultado de forma imediata, rápida. Nós, brasileiros, sempre queremos que as coisas mudem de forma instantânea, da água para o vinho. Mas, na verdade, sabemos que isso não acontece, a menos que Jesus queira voltar para a Terra e escolha ser técnico de futebol.

O futebol, acima de qualquer coisa, é planejamento. Existem exceções? Claro que sim. O Flamengo em 2009 talvez tenha sido o mais recente. Mas não podemos nos basear por isso. É cansativo sempre vermos nomes como o de Celso Roth, Luxemburgo, Joel Santana, Mano Menezes e tantos outros que já tiveram outras chances (e tantas outras!), mas que não vingaram tanto (com exceção do Luxa e do Joel, que já conquistaram títulos expressivos). Mas que tal mudar? Que tal darmos espaços para aqueles que estão aparecendo? Para aqueles que se destacam em divisões inferiores, que passam por maiores dificuldades e que mesmo assim obtiveram êxito?

O que pode parecer estranho aqui no Brasil, na Europa não é. Basta lembrarmos, por exemplo, do Jurgen Klopp, que fez um excelente trabalho no Borussia Dortmund, em 2001, época que tinha 43 anos apenas. Rafa Benítez conduziu o Liverpool à glória em 2005, quando tinha 45 anos. Frank Rijkaard tinha 43 anos quando conduziu o Barcelona ao seu primeiro título europeu desde 1992. Com 47 anos de idade, Carlo Ancelotti conquistou a sua segunda coroa europeia como treinador do Milan em 2007. André Villas-Boas, aos 33 anos, tornou-se o mais jovem treinador a vencer uma competição europeia quando o FC Porto triunfou na final da UEFA Europa League de 2011. Mais recentemente, Zidane se tornou o novo técnico do Real Madrid, aos 43 anos.

Exemplos não faltam. Até aqui perto. Na Argentina, Marcelo Gallardo venceu a Copa Libertadores da América pelo River Plate aos 39 anos de idade. O treinador do Huracan, Eduardo Domínguez, foi vice-campeão da Copa Sul-Americana. Ele possui 37 anos de idade. Por que não apostamos aqui no Brasil? É essa a pergunta que temos que nos fazer.

Deivid, aos 36 anos, ao lado do Pedrinho, 38 anos, formam a comissão técnica do Cruzeiro para a temporada de 2016 (técnico e auxiliar técnico, respectivamente). O que mais torço é para que ambos tenham tempo necessário para poderem desempenhar um bom papel. Não existe treinador que chega para resolver. O treinador resolve um problema com trabalho, com tempo. Que eles tenham tempo e confiança, assim como teve o Roger Machado no Grêmio que teve seu contrato renovado, após suceder o Luis Felipe Scolari (treinador renomado, com títulos expressivos, mas que fez um péssimo trabalho).

Nós temos exemplos de bons trabalhos. Agora teremos que ter bons exemplos de paciência. Será?

Um grande abraço,

Arthur Guedes.