sexta-feira, 8 de março de 2013

As desventuras do futebol moderno - não dá para torcer por uma empresa!

Estou a duas semanas sem escrever por aqui. Gostaria de pedir desculpas pela ausência e agradecer por mais essa oportunidade porque é sempre um prazer escrever aqui!

Vejam bem: pode até ser paixão, pode até ser tradicionalismo, até saudosismo pode ser. Mas me desculpem: esse negócio de time de futebol como empresa é uma tremenda chatisse.

É chato para o torcedor. Não sei se é para o jogador (que atualmente recebe quantias de dinheiro tão exorbitantes). Não sei se é para o dirigente (que agora tem aporte teórico mais sólido para gerenciar - já que a estrutura do clube está hoje sendo nivelada com as da empresa no que tange à administração). Não sei se é para os funcionários dos clubes, federações e outras entidades envolvidas no futebol. Mas para mim, como torcedor, é.

As pessoas deixaram de ser vistas por seus clubes como apaixonados amantes para serem vistas como meros...clientes. Sim, clientes. Compradores de produtos que mantêm uma marca mais ou menos viva.

O torcedor lá quer saber sobre "valor de marca", "marketing", etc.? Torcedor quer saber de futebol. É pedir muito falar só de futebol quando o assunto for futebol? Não é raro em páginas esportivas discutir-se coisas que, embora, sejam determinantes para o futebol de hoje - infelizmente! - refletem quão maus da perna estamos.

Torcedor quer ter um time forte, quer ter um ou mais ídolos, ganhar jogo, zoar os 'rivais', ganhar títulos. E pronto.

A chatisse do mundo corporativo, dinâmico, midiático e baseado em imagem que está em tudo que olhamos aí fora se apossou do futebol. O futebol é nos mostra que nem mesmo as tradicionais paixões da humanidade não sobreviveram a essa idiotização da humanidade que cria seus filhos para vestir, comer, respirar e servir às grandes marcas. Uma pena!

Dinheiro não existe no futebol desde semana passada. Existe há muito tempo. Sim, fato. Jogador é mercadoria, clubes são clientes. Sempre foi. Mas parece que à medida que vai se aumentando o poder do dinheiro no futebol começa a haver total discrepância técnica (falando de qualidade mesmo) entre clubes com e sem dinheiro.

Hoje, como nunca antes visto, a grandeza de clubes que antes era conquistada em décadas de tradição, mobilização de pessoas, entre outros elementos, pode ser simplesmente comprada. Simples assim.

Algum super-magnata-empresário-messias-trilionário compra um time e ele com poder de compra de jogadores, de apelo midiático e de acesso a meios de comunicação de larga escala transforma um time qualquer em alguns anos em "grande" e com títulos.

Isso soa tão errado para o futebol! O futebol, como uma espécie de sintoma social que é (um reflexo da sociedade, especialmente aqui na América do Sul), mostra que esse tipo de situação é para ele, como esporte e uma paixão, um câncer. Mas o problema é maior. Não nasce dentro do futebol, nasce fora. Mas também se reflete nele. E, consequentemente, o domínio social e político de países "ricos" e "pobres", resultante da discrepância entre riquezas, se estende sobre o futebol.

Será que estamos fadados a aqui no Brasil no futuro nos apaixonar e torcer por times da Liga Estadounidense de Futebol? Que os deuses do futebol não permitam.

Quem é o culpado? Não sei, a história é longa.

Mas fato é que tudo que as pessoas gostam hoje se tornou produto. Feito para elas comprarem e alguém lucrar com isso. Com o futebol não poderia ser diferente. Sendo o esporte  mais popular do mundo e mobilizando pessoas da África à Europa, do norte ao sudeste do Brasil, é uma bela mina de ouro para grandes empresários. O futebol tem donos - como quase tudo que existe hoje. Estes vendem esse produto para seus apaixonados torcedores, agora clientes.

É assim que Ronaldo, ícone dentro de campo para minha geração, se tornou para mim uma figura quase asquerosa à medida que esse, junto com outros, vai interferindo na rota do nosso futebol para benefício e lucro próprio e de sua (s) empresa (s).

Os clubes deveriam amar seus torcedores como esses amam seus clubes, não vê-los como meros clientes de uma marca.

Futebol é paixão, não é "show business".

Abraço,

Jefferson Fernandes. 

Twitter: www.twitter.com/JeffsFernandes